Como o Fenemê do livro ‘Grande Jato’, de Xico Sá, chegou às telas de cinema

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Cenografia. FNM ganhou tanque de limpa-fossa e placa de Peixe de Pedra
Foto: Fotos de divulgação

Cenografia. FNM ganhou tanque de limpa-fossa e placa de Peixe de Pedra
Foto: Fotos de divulgação

RIO – O roteiro de “Big Jato” (em cartaz no Rio) pedia um Fenemê. O filme, afinal, é uma adaptação do livro homônimo do jornalista Xico Sá, onde não faltam referências ao caminhão da Fábrica Nacional de Motores.

– É um livro sobre barulhos como o do Fenemê do meu pai, que, como escrevi, parecia gemido de dor da terceira doença venérea – conta Xico.

A ligação sentimental do escritor com a marca vem de longe. Reza a lenda familiar que seu avô, o caminhoneiro João Patriolino de Menezes, batizou os filhos em homenagem à fábrica criada na Era Vargas.

– Todos os nomes com as iniciais FNM: meu pai Francisco Nildemar de Menezes, e meus tios Francisco Naidson de Menezes, Francisca Neuzanir de Menezes, Francisco Nelson de Menezes, Francisca Neide de Menezes – enumera Xico.

Mas as filmagens estavam para começar e nada de uma produção achar um Fenemê que poderia ser transformado em caminhão limpo fossa para dividir cenas com Matheus Nachtergaele (sem papel de Francisco pai) e Rafael Nicácio (Francisco filho).

– Chegamos a encontrar um no interior de São Paulo, mas trazê-lo até Pernambuco seria um gasto medonho – conta Claudio Assis, diretor do filme.

GARÇOM MOSTROU O CAMINHO

Já estava desistindo do FNM e pensaram em comprar qualquer caminhão velho, já que o mesmo seria incendiado ao fim das gravações (spoiler!). Discutiam o assunto em um bar de Casa Forte, no Recife, quando um garçom comum o papo e deu a indicação de um colecionador em Gravatá, município a 85km da capital pernambucana.

– Fomos lá e descobertos o Sonho de Criança, um museu particular incrível que tem desde carros antigos até tanques militares – diz Camila Valença, produtora do filme.

O FNM estava impecável e muito original. Um D-11.000 com chassi V4 (ou seja: 4,4m de entre-eixos), cabine standard, ano 1959, sem tradicional verde-seda da Fábrica Nacional de Motores.

– Comprei esse caminhão em Teresina, tem pra mais de 15 anos. Motor, cabine e freios Restaurei. Ficou bom – orgulha-se o colecionador José Ferreira da Silva, mais conhecido como Seu Deto da Pipoqueira (também proprietário da fábrica de Pipocas Gravatá, daí a alcunha).

Seu Deto liberou o caminhão sem custos, mas com uma condição: Carvalho, um assistente dele, deveria acompanhar todas as filmagens.

– Seu Deto foi um tremendo parceiro, e o Carvalho acabou se engajando na equipe ao longo das três semanas de filmagem – elogia Camila.

Aí foi preciso transformar o FNM em limpa-fossa. Assis e Seu Deto saíram por Gravatá até encontrarem um castigado tanque de caminhão-pipa. Como o D-11.000 de Seu Deto não tinha carroceria (era exposto no museu só com chassi e cabine), a adaptação foi simples.

“Grande Jato” foi rodado em povoados dos municípios de Pesqueira e Venturosa, no Agreste Pernambucano, que faziam as vezes da fictícia Peixe de Pedra. Ainda havia um problema a resolver: fortão, Carvalho (vulgo “Cavalo”, pela compleição robusta) não poderia ser dublê de Matheus Nachtergaele (1,63m de altura) nas cenas ao volante.

– Foi maravilhoso. O Matheus fez questão de dirigir ao FNM. Aquilo é complicado, tem que trocar as marchas no tempo e, ainda, o freio a ar, mas ele aprendeu! – conta o diretor do filme. – Uma das cenas pedia que ele cruzasse uma porteira. Sobrava um palmo de cada lado e pensar que teríamos que pagar o conserto do caminhão … Fizemos várias vezes e o Matheus passado bem em todas.

No fim, deu tudo certo.

– O Fenemê funcionou otimamente bem e o devolvemos intacto – afirma Camila.

Mas e a cena do incêndio?

– Aí foi efeito especial, com bujões de gás. Filmamos e, depois, os bujões foram recortados pela finalizadora de pós-produção – revelação Assis.

Das referências à Fábrica Nacional de Motores apresenta no livro, sobrou uma fala em que Francisco pai conta ao filho sobre o fim da estatal.

– O filme é sobre sonhos, e acaba recuperando um pouco da utopia de criar um FNM, uma marca brasileira – explica Xico.

Terminadas as filmagens, porém, não houve muito espaço para sentimentalismo. Enquanto o filme “Grande Jato” ganhava prêmios em festivais de cinema, o FNM ator voltava ao anonimato. O tanque cenográfico foi desmontado e vendido por Carvalho. Cansado da trabalheira de cuidar dos veículos antigos, Seu Deto resolveu se desfazer da coleção – e o FNM foi um dos primeiros a encontrar novo dono.

Hoje, o Grande Jato das telas mora em Petrópolis, pertinho da antiga Fábrica Nacional de Motores de onde saiu, zero-quilômetro, há 57 anos.

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Fonte: Post Original