Envelhecer em um país tão desigual é ruim para todos – 30/01/2021 – Folha 100 anos

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Quem sustentará um país que em breve terá mais avós que netos? Como envelhecerão os jovens de hoje que nem estudam nem trabalham? Terão condições de cuidar de seus pais?

O número de desempregados e desalentados atingiu níveis recordes mesmo antes da pandemia —e continua aumentando. Trabalho precário, no setor informal, sem proteção social, condena milhões de cidadãos com 50 anos ou mais à vulnerabilidade, com chance remota de volta ao mercado de trabalho formal.

No ranking da desigualdade, sempre estivemos entre as dez piores colocações. No final de 2019, a desigualdade por renda havia crescido pelo 19º trimestre consecutivo. A pandemia só tem feito aumentar o golfo que separa os que estão no topo da pirâmide aqueles que integram uma base inchada, mesmo levando em consideração o auxílio dado pelo governo —por definição, emergencial.

Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), observou que entre 2014 e 2019 a renda da metade mais pobre da população diminuiu 17,1%, enquanto a do 1% mais rica aumentou em 10,1%. Isso num contexto em que os 5% de brasileiros no topo da pirâmide acumulam bens equivalentes aos demais 95%. No entanto, uma pandemia não impediu um aumento do número de bilionários no país.

Enquanto outros países começam a ver os frutos da 4ª Revolução Industrial, milhões de brasileiros ainda não se beneficiam das inovações das três primeiras: domínio da energia, produção em massa e digitalização. Podem até ter um smartphone na mão, mas os pés estão no esgoto, inexistente para mais da metade da população.

É como se o que o escritor Stefan Zweig proclamou há décadas, “Brasil, o País do Futuro”, pareça-se mais com um país do passado.

Nossa produção industrial em 2020 não chegou a 10% do PIB (Produto Interno Bruto), a menor fatia desde 1947. O abismo da exclusão digital tem crescido durante a pandemia. Dados do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) mostra que 55% dos filhos de pais sem instrução têm acesso à internet, comparados a 4,9% relativos aos pais têm instrução superior.

Como competir uns com outros se o ensino passou a ser essencialmente virtual? Não é à toa que a abstenção não Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tenha sido superior a 50%. Para que tentar se você se sente tão despreparado?

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países ricos, publicou em 2017 o relatório “Prevenir o Envelhecimento Desigual”. Não preveni-lo prejudica tanto pobres quanto ricos. Não só a economia se torna insustentável como aumenta o aumento de doenças que podem ser prevenidas, assim como o nível de ansiedade e estresse, com consequências negativas para a saúde de todos, física e mental.

Sociedades menos desiguais são mais coesas e produtivas e menos violentas e angustiadas, além de apresentarem níveis muito mais baixos de disfunção social.

Os países desenvolvidos primeiro enriqueceram para depois envelhecerem. O Brasil está envelhecendo mais rapidamente do que eles, em um contexto de pobreza e desigualdade intolerável. À falta de políticas vigorosas e urgentes, corremos o risco de transformar a grande dádiva dos últimos cem anos —a longevidade— em uma crise irreversível.

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Fonte: Post Original