População de Vales Mortos vai ficar mais um ano sem a sua praia | Ambiente

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Durante 40 anos, foi na praia da pequena aldeia de Vales Mortos, no concelho de Serpa, que as crianças aprenderam a nadar e os mais velhos pescavam achigãs e carpas para animar os convívios das famílias ou entre amigos, numa das zonas mais tranquilas do Alentejo , próxima do Pulo do Lobo. O privilégio manteve-se durante as mais de quatro décadas, até que a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), construída em 2007, avariou em 2014 e os esgotos sem tratamento foram lançados para uma barragem e uma “zona balnear” acabou. Agora, a obra foi concluída mas nem tudo está pronto: ainda há solos contaminados para retirar.

No final de 2017, a comunidade, na sua esmagadora maioria idosos, cansou-se da prolongada espera pela resolução do problema e recorreu a um abaixo-assinado, assinante por 155 residentes, a exigir uma intervenção urgente no tratamento dos esgotos. A autarquia correspondeu com um projeto para a construção de uma nova ETAR e teve de cumprir um encargo de 150 mil euros.

A nova ETAR está a funcionar sem problemas, mas falta cumprir outro compromisso assumido pelo presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires: proceder à limpeza dos sedimentos contaminados que se acumulou durante vários anos no leito da albufeira com cerca de três hectares de superfície.

Neste sentido, o autarca propôs aos proprietários da herdade M. Damião, onde se encontra a barragem em terra batida construída há pelo menos meio século, o esvaziamento da albufeira para efetuar a intervenção. A proposta foi acolhida e as comportas da barragem foram abertas.

Contudo, há quase três anos que a ganhar das lamas contaminadas tem vindo a ser protelada. “Agora temos a albufeira sem água que tanta falta nos faz” para o abeberamento de cerca de 200 ovelhas, 250 cabras e mais 250 bovinos, referiu ao PÚBLICO Ana Filipa Félix, co-proprietária da exploração.

A reserva de água percebe-se agora, mantinha um “grau de humidade que se concentra na sua área envolvente e até amenizava no Verão a temperatura ambiente na aldeia” para além de propiciar condições definidas à criação de gado, explica Filipa Félix, divulgando que nas actuais circunstâncias “têm de transportar água para o abeberamento dos animais.”

Agora recorre a poços que ficam próximos da barragem mas que levam muitos dias para recuperar porque os aquíferos subterrâneos corrigem de receber efluências vindas da albufeira.

Calor aumentou

Quando foi despejada, o presidente da câmara garantiu que os trabalhos de limpeza demorariam um mês. Passaram entretanto mais de dois anos sem qualquer intervenção ou explicação da autarquia. “O povo da aldeia queixa-se que o calor no verão aumentou depois de terem esvaziado em albufeira”, relata António Pereira, referindo ao PÚBLICO como a “barragem é muito importante para uma população de Vales Mortos” e não só. Era naquela reserva de água que os bombeiros iam buscar água para combater os fogos nas instalações, e onde “toda a gente da minha idade (55 anos), quando éramos crianças, aprendeu a nadar”.

Apesar de ser uma barragem particular, “a água desenrascava as pessoas” da aldeia, reconhece o morador, lamentando a perda de uma reserva que “tanta falta faz” em tempo de escassez. Em condições normais, enche rapidamente porque tem uma bacia com muitos barrancos.

Filipa Félix, valoriza a sua importância até para fauna selvagem: garças, patos, coelhos, lebres, javalis. Daí que tenha dificuldade em conhecer os responsáveis ​​autárquicos. Depois de terem poluído a água da albufeira com a carga orgânica largada pela ETAR e de “nos terem morrido animais (bovinos), nós acedemos a abrir as comportas da barragem quando a câmara nos pediu.”

Na consulta que o PÚBLICO fez à acta da reunião do executivo municipal de 19 de agosto, José Gomes, residente em Vales Mortos, lembravava às autarcas “que a barragem precisa de uma limpeza, antes da época das chuvas, tendo o Sr. Presidente respondido que a Câmara já está a tratar do assunto, no que diz respeito à abertura de concurso, para a escolha da empresa que irá fazer essa limpeza. ”

Um mês depois, o autarca garantiu ao PÚBLICO que uma operação de limpeza dos sedimentos “ia começar no final de Setembro.” Faltava assinar os termos da empreitada. Mas até ao presente, a situação não se alterou.

Entretanto as chuvas de Outono em circunstâncias normais já atendem à barragem uma apreciável reserva de água, que acaba por se perder porque como comportas continuam abertas. Fica assim, mais uma vez adiada a possibilidade de, no próximo Verão, os residentes em Vales Mortos poderem tomar banho na “sua praia”.

Pedro Damião que também é co-proprietário da herdade disse ao PÚBLICO vai ser forçado a um custo de cerca de “15 mil euros na abertura de mais três furos para ter água para os animais.” Adiado fica também o projeto de instalação de uma área de hortícolas e o alargamento do efetivo pecuário.

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Fonte: Post Original