'Queremos tirar o filtro misógino que foi colocado sobre Dilma', diz Anna Muylaert, diretora de 'Alvorada'
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Foram quase três meses com uma equipe de filmagens instalada em um hotel ao lado do Palácio da Alvorada, em visitas diárias à residência oficial da então presidente da República, Dilma Rousseff, acompanhando seu cotidiano até o dia 31 de agosto de 2016, quando o Senado aprovou o processo de impeachment e seu mandato foi cassado definitivamente.
O material com mais de 400 horas de gravação foi transformado em “Alvorada”, documentário de 80 minutos dirigido por Anna Muylaert (“Que horas ela volta?”) E Lô Politi (“Jonas”). Exibido em abril, no Festival É Tudo Verdade, o filme estreia hoje nos cinemas, e também em streaming – Now, Oi, Vivo Play, Google Filmes, iTunes e Youtube.
História na tela: o golpe de 1964 em ficções e documentários
Diferente de outros documentários lançados após o impeachment, como o indicado ao Oscar “Democracia em vertigem” (2019), de Petra Costa, “O processo” (2018), de Maria Augusta Ramos, e “Excelentíssimos” (2018), de Douglas Duarte, “Alvorada” aposta em uma visão menos focada nos eventos políticos, e mais centrada no dia a dia de Dilma Rousseff e dos funcionários do palácio, que funciona como espécie de coprotagonista.

– O filme tem dois eixos: o palácio, que está ligado ao poder institucional do cargo, e a Dilma, que mostra o poder interno de uma figura muito discreta, que não quer ser transformada em personagem – diz Anna Muylaert.
A câmera de “Alvorada” atua como silenciosa espectadora dos dias que caminharam até aquele 31 de agosto. Foram impostas pouquíssimas restrições à equipe como, por exemplo, o veto a filmagens de Dilma Jane, mãe da ex-presidente, que morreu em 2019.
Na tela, o documentário mostra reuniões cruciais com caciques do PT, como os ex-ministros Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo e Jacques Wagner, mas também mostram aparentemente banais, como o desentupimento de um filtro do espelho d'água e a definição da quantidade de granola a ser enviada à cozinha do Alvorada.
Lô Politi conta que, nos momentos ociosos, costumava pegar sua câmera e passear pelos suntuosos e silenciosos salões do palácio em busca de registros. Uma liberdade que foi confrontada minimamente quando Dilma começou a dar indícios de que estava incomodada com a presença da câmera seguindo seus passos. “Alvorada”, aliás, não esconde tal desconforto, com duas cenas em que a ex-presidente pede à equipe para que se retire do recinto.

– O incômodo dela aumentou o impeachment foi se aproximando. E nós fomos nos distanciando. Isso está na estética do filme. Ali dentro era canalizada uma energia muito pesada – diz Lô.
A diretora lembra que a sala do Alvorada onde eram guardados os equipamentos de filmagem ficava localizada embaixo de uma capela do palácio. A equipe brincava que a cruz da igrejinha funcionava como espécie de para-raio das “ruínas de energias que pairavam sobre o país”.
Conforme “Alvorada” avança, se torna perceptível a angústia e tensão crescentes de funcionários e assessores, visivelmente impotentes diante do desfecho que se aproxima. Enquanto um grupo ou outro aparece para prestar apoio a Dilma, o palácio funciona como uma moldura ideal para enquadrar um outro processo, além do impeachment, sofrido pela ex-presidente: o completo isolamento.
– A melancolia do filme está nesse vazio cada vez maior, nos silêncios. Como sabíamos que o final seria trágico, foi muito angustiante acompanhamento o desenrolar dos fatos. E percebemos que Dilma não tomou aquela situação para si, de forma pessoal. Ela se manteve no eixo, era a única resistência – relembra Lô.
Quase cinco anos depois, Anna Muylaert acredita que o filme é mais atual do que nunca, por permitir uma revisão sobre o que significou o afastamento de Dilma Rousseff, por mais que não traga novidades sobre o impeachment.
– Uma das funções do documentário é mostrar um retrato mais próximo de uma figura que a gente não conheceu direito. Foi colocado sobre um Dilma, from your first mandato, um filtro misógino que nós queremos tirar – diz Anna.
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Fonte: Post Original