Saiba quais serão os impactos da Pandemia no futuro das cidades – 24/04/2021 – Ilustríssima
[ad_1]
(resumo) Covid-19 pode causar a maior alteração na vida urbana desde a consolidação das grandes cidades modernas, analisa arquiteto. A uma salutar revalorização do espaço doméstico contrapõe-se mais individualismo e segregação. Desigualdade demandará políticas públicas mais ousadas.
As cidades são, por excelência, lugares de aglomeração. Por isso, sempre foram os focos preferenciais das epidemias. Suas condições físicas e sanitárias —alta densidade populacional, saneamento deficiente, moradias superlotadas e intensos contatos entre as pessoas— propiciam a proliferação de doenças contagiosas, tanto do aparelho respiratório como do digestivo.
O médico inglês John Snow —o pai da epidemiologia moderna que, em 1854, descobriu que o cólera-morbo se propagava através da água contaminada pelo esgoto— verificou a forte correlação entre a disseminação dos vírus e a moradia. “Era entre os pobres, com famílias que viviam, dormiam, cozinhavam, comiam e se asseavam juntas em um único cômodo que o cólera se expandia.”
Uma lição que, após um ano de pandemia, nossos governantes ainda não aprenderam, pois nada fez em relação à habitação.
Além de impactar a vida urbana, as epidemias também impulsionaram políticas públicas estruturantes. Entender os impactos da Covid-19 nas cidades e formular enfrentam os novos desafios é fundamental. É o que propomos neste artigo, iniciando por uma breve revisão histórica da relação entre as epidemias e as cidades.
A peste negra dizimou cerca de um terço da população europeia no século 14, gerando forte impacto social e urbano. Reduziu drasticamente o número de trabalhadores na agricultura, ampliando como pastagens e como florestas. Abalou o regime de servidão. Nos burgos e nas cidades, interrompeu o renascimento urbano, comercial e cultural da Baixa Idade Média, que levou décadas para se recuperar.
As pandemias do século 19 foram decisivas para impulsionar a regulação urbanística e a habitação social. Na esteira da intensa urbanização provocada pela revolução industrial, surgiram várias epidemias, agravadas pelas péssimas condições sanitárias das cidades.
Friedrich Engels, no clássico livro “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra” (1845), revelou, de maneira contundente, a pobreza e a precariedade dos cortiços, caracterizados pela insalubridade, exiguidade de espaço e superocupação.
Para enfrentar como epidemias, reformadores sociais e médicos, como John Snow, defende maior intervenção estatal, normas sanitárias e urbanas que restringissem o laissez-faire; contudo, nos países capitalistas, como Inglaterra e França, prevalecia o liberalismo. O mercado atuava sem regulações sanitárias, enquanto grandes pandemias se espalhavam pelo mundo, fazendo milhões de ferir nas cidades industriais.
Em 1848, sob o impacto da terceira pandemia da cólera na Inglaterra (1846-54), que matou dezenas de anos de trabalhadores, o Parlamento aprovou a primeira Lei Sanitária. Segundo o arquiteto e urbanista Leonardo Benevolo, a legislação gerou grande polêmica e protestos por parte dos liberais, que opunham à interferência do Estado nas atividades econômicas.
Vários historiadores urbanos, como Enid Gauldie e Roger Guerrand, defasados que as epidemias geraram um clima político que favoreceu a adoção do controle sanitário e urbanístico e a promoção da habitação social.
Engels, em 1891, no prefácio da edição inglesa de seu livro já citado aqui, quase 50 anos após a primeira edição, reconheceu a melhoria das condições sanitárias. “As ocorrências repetidas de cólera, tifo, varíola e outras epidemias impedem ao burguês britânico a necessidade urgente de saneamento de suas cidades e vilas. Consequentemente, os mais gritantes abusos (observados em 1844) desapareceram ou se transformados menos perceptíveis. ”
No livro “Origens da Habitação Social no Brasil”, mostro como as epidemias do final do século 19 impulsionaram as primeiras ações concretas do poder público voltadas para enfrentar as condições sanitárias das cidades.
Na década de 1890, enquanto epidemias de varíola, cólera e febre amarela se espalhavam pelo estado, o governo paulista estruturou um imenso aparato sanitário, com viés repressivo, para intervir nas habitações insalubres e em várias esferas da vida econômica. Para acelerar a implantação de redes de água e esgoto, indispensáveis para conter as doenças, o governo encampou a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, até então uma empresa privada.
Em 1894, impôs o Código Sanitário, um complexo regulamento que originou a legislação urbanística e o Código de Obras, com enorme repercussão. A exigência de exigências e insolação natural levou à extinção das alcovas (cômodos sem janelas), tradicionais na arquitetura colonial, e à obrigatoriedade dos recuos, ainda presente nas normas urbanísticas.
As epidemias sempre geraram transformações nas cidades, interrompendo processos em curso, reforçando tendências latentes ou impulsionando novas políticas públicas. Como no passado, tudo indica que o mesmo ocorrerá agora. Identificá-las, estudá-las e formular políticas para enfrentar as novas questões que estão surgindo é fundamental.
No início da quarentena, muitos previram que a excepcionalidade seria breve, que rapidamente voltaríamos à vida “normal”. Com a vacina, acreditou-se que a pandemia iria terminar rapidamente. Hoje, no pior momento da crise, acredita-se que conviveremos por muitos anos com esse vírus.
No Brasil, 6% da população toma como duas doses da vacina. Apenas em 2022 todos os brasileiros estarão imunizados. Não se sabe, contudo, por quanto tempo as vacinas protegerão como pessoas, nem se são igualmente eficientes para as variantes. Infectologistas preveem o surgimento de novos vírus.
Por isso, como recomendações de evitar aglomerações e de ficar em casa permanecerão. A longa duração da pandemia tende a consolidar como novas tendências de mudanças de comportamento urbano, positivas ou negativas, afetando todos os aspectos da vida nas cidades – habitação, trabalho, educação, cultura, espaço público, mobilidade e lazer.
Baseado em nossas pesquisas e em números estudos que se debruçaram sobre esse tema, sintetizei em 22 pontos os principais impactos da pandemia na vida urbana.
1 A habitação se torna o lugar central da vida familiar, profissional e social. Além de moradia, passa a ser o lugar do trabalho, do estudo, do lazer, do exercício físico, do relacionamento social. O direito à habitação ganha maior importância, reforçando a necessidade de políticas públicas que atendem a população mais vulnerável.
2 Empresas, ONGs e órgãos públicos se reorganizar para manter o lar escritório, ainda que de forma híbrida. Com ferramentas digitais sofisticadas, inteligência artificial e câmeras abertas, como empresas controlam a distância os funcionários e realizam reuniões de trabalho online. Os escritórios corporativos se mantêm, mas com espaço (e custos) reduzidos. Novas questões trabalhistas se impõem, como os gastos adicionais gerados pelo home office ao trabalho.
3 No ensino fundamental e médio, as aulas presenciais permanecem, mas ocorre a participação de atividades virtuais. No ensino superior e pós-graduação, as aulas online, com os melhores professores e aulas e debates com especialistas de todo o mundo, se tornam frequentes. A globalização na educação se intensifica.
4 Essas mudanças mudanças moradias maiores, conectadas à internet rápida e com espaços específicos e silenciosos para o home office e a educação a distância. Esses requisitos são indispensáveis para a contratação e a formação profissional. Apartamentos minúsculos e estúdios, tendência recente do mercado tornado, tornado-se inadequados.
5 Sem políticas públicas para garantir o acesso de população de baixa renda a uma habitação com esses requisitos, a desigualdade social e urbana se tornará ainda maior.
6 Embora já fosse evidente, a pandemia reforçou a Necessidade de urbanização e saneamento dos assentamentos precários para garantir a prevenção sanitária das cidades.
7 A longa permanência na moradia requer repensar o espaço doméstico para inserir-lo, maneira de harmoniosa, com os outros moradores, com ambientes mais adequados e acolhedores para as novas funções.
8 Os espaços abertos na habitação, como quintais, jardins, varandas e áreas livres nos condomínios ou na vizinhança, tornam-se necessidade e objeto de desejo, sobretudo nas famílias com crianças.
9 Como nem sempre esses requisitos podem ser atendidos, os conflitos familiares crescem, gerando separações ou reforçando a tendência dos casais morarem separados. Em 2020, os divórcios cresceram 15% em relação a 2019, aumento a demanda por moradias.
10 Com o home office, o deslocamento da moradia-trabalho torna-se possível, permitindo maior flexibilização do local da habitação e recuperação do tempo e custo do transporte.
11 Muitas famílias nos estratos médios e altos de renda podem morar longe do local do trabalho, em condomínios fora da cidade, na praia ou no campo. Cerca de 10% dos moradores dos bairros nobres de São Paulo passaram uma quarentena fora da cidade e se acostumaram. A custos mais baixos, podem ter uma casa maior, com generosas áreas livres. A dispersão urbana e segregação socioterritorial se aprofundam.
12 O comércio virtual torna-se mais frequente, afetando lojas físicas e centros comerciais, que entram em crise com a perda clientela e da receita. Em compensação, os centros logísticos de distribuição de apoio ao comércio online crescem.
13 Ao trabalharem em casa, como pessoas circulam mais em seus bairros, fortalecendo relações de vizinhança e como redes de solidariedade local. Isso pode gerar novo impulso do comércio e serviços locais.
14Já os bairros centrais, que concentra os empregos no setor terciário, perdem atratividade. A redução dos escritórios amplia a disponibilidade e derruba o valor do aluguel de imóveis e áreas corporativas, cuja vacância alcançou, estima-se, até 22,4% no último trimestre em São Paulo. O comércio e os serviços do entorno, como restaurantes, perdem parte da clientela.
15 . Outrora pujantes, esses bairros podem se tornar decadentes, caso não se transformem em áreas de uso misto, com mais habitações. Facilitar o retrofit, para converter os edifícios comerciais em residenciais, é indispensável.
16 A moradia torna-se o local de entretenimento. Além da TV, plataformas digitais (Netflix, Globo Play etc.), espetáculos teatrais online e lives musicais ampliam o acesso doméstico à cultura, substituindo cinemas, teatros e casas de show. Equipamentos de projeção e telas grandes salas maiores e mais reservadas.
17 Espaços culturais e de gastronomia, como teatros, cinemas, casas noturnas, bares e resultados, forte redução na frequência e perdem economia sustentável com o prolongado isolamento, o entretenimento na moradia e o delivery. Sem programas de apoio, podem fechar definitivamente, abalando a vida cultural da cidade.
18 Esse setor é ainda impactado pela redução do turismo de negócios e eventos. Reuniões de trabalho, congressos profissionais e simpósios acadêmicos tendem a manter virtuais, afetando uma infraestrutura criada para atendê-los. O turismo de lazer é menos atingido.
19 Embora o desejo de frequentar espaços e equipamentos públicos continue forte, seu uso para eventos culturais de massa, tendência antes da pandemia, deve ser controlado para evitar aglomerações, perdendo audiência.
20 A procura por locais para recreação, como parques, praças e áreas livres, tenderá a crescer, ampliando a publicação por mais espaços disponíveis.
21Os modais individuais motorizados (carros e motos) e ativos (bicicletas e a pé) aumentam sua participação na mobilidade por garantirem maior isolamento e por estarem mais adequados à flexibilidade das novas relações de trabalho, em detrimento do transporte coletivo.
22. Em consequência, aprofunda-se a crise do sistema de transporte coletivo, equilíbrio financeiro requer uma lotação mínima e demanda regular. Para se viabilizar, requererá mais subsídio e medidas de prevenção sanitárias.
Esse cenário trará, provavelmente, a maior alteração urbana desde a consolidação da cidade contemporânea e da concepção de Le Corbusier, expressa na Carta de Atenas, baseada na separação das quatro funções em torno das quais a cidade se organiza: habitar, trabalhar, recrear e circular.
Conforme as mudanças tornam necessária uma reformulação do pensamento urbano, ainda marcada pelo movimento moderno, lançando novos desafios para o planejamento urbano.
O modo de morar e de viver, preconizado por esse cenário, embora tenha alguns aspectos positivos, tende a reforçar o individualismo, o isolamento entre as pessoas e a segregação, além de desestimular a convivência no espaço público. Ele pode gerar uma cidade ainda mais desigual, em que grande parte da população é excluída. A riqueza da vivência urbana que conhecemos pode expandir.
A perspectiva promissora que se vivia nas cidades na última década, com valorização do espaço público, maior compartilhamento e convívio social, fortalecimento das arenas culturais e busca de adensamento em designada à dispersão urbana, pode se fazer se as políticas públicas que se contrapõem a essas tendências não principais formuladas e implementadas.
[ad_2]
Fonte: Post Original